Não te sofri nem por um segundo. A saída da minha vida já havia sido concretizada muito antes de, esperadamente, fechares aquela porta. Recordando o momento como que uma Polaroid, disseste-me que ias fazer umas compras, que nos veríamos à noite, e que (como era usual nas nossas despedidas) me amavas. Mas já era mentira. Há mais tempo do que podíamos sequer imaginar.
Hoje, quando a dor já não faz mais sentido, quando o tempo já não me traz o teu nome, choro-te... Com raiva, saudade e nenhum amor. Estranho é chorar alguém que não amamos, como se assim o sentíssemos. Amo a felicidade que me deste naqueles tempos em que nos trancávamos no quarto dias a fio e contávamos, entre vírgulas de risos, tudo o que nos lembrávamos sobre a nossa vida passada. Como gostava da sensação de me conheceres como alguém jamais havia conhecido. Era de facto feliz! E como era (estupidamente...) feliz quando me aninhava no teu colo no sofá! Choro tudo isso, não te choro a ti.
Por vezes, como que vivendo em Mulholland Dr., equaciono um desfecho diferente para nós. Sonho que naquele dia não decídiamos abruptamente o fim. Sonho que voltávamos a casa (rindo). Sonho que voltaríamos a planear e projectar (rindo). Sonho que seríamos novamente felizes como éramos quando fomos (rindo, mas desta feita com o riso do casal de idosos num taxí por L.A.). "No hay banda. There´s no orchestra. Il n´y a pas de orchestra. It´s all recorded. It´s all in the tape."
Mas tal como no filme sei, que se assim fosse, não seria de todo melhor. Com o tempo descobririam o meu corpo inerte apodrecendo numa cama dum quarto de solteira. E a caixa azul de pandora (sempre foi esta a cor) voltaria a abrir-se incompleta, todos os males do Mundo, mas sem a esperança no final. Foste, é certo. Mas não és e nunca serias, apesar de eu ter acreditado.
Mas choro-te, mesmo sabendo que, por momento algum, te deveria ter chorado.
Llorando from Mulholland Dr. - David Lynch
23/01/09
18/01/09
Textos Avulso
"Acendes-me.
As borboletas esvoaçam, na iminência da tua presença.
Cada segundo contado,
Cada minuto transformando-se numa hora,
Cada quilómetro percorrido apertando-me a bomba da vida.
O sangue expelido percorre as minhas veias
Na ânsia de ser aquecido pelo teu calor.
A boca rasga-se num sorriso nervoso.
Sorriso esse que contagia os olhos,
Brilhantes de tal maneira q contêm dois sóis!
Rebrilho!
A distância aproxima-se do nada.
A contagem-decrescente está prestes a chegar ao fim.
As borboletas redobram o seu esvoaçar.
A compressão da bomba da vida mal me permite respirar.
O sangue corre à velocidade da luz.
É nada!
Agora espero.
Exalto-me!
És tu que vens lá.
Com um sorriso no rosto na minha direcção.
Aqueces-me!
Libertas as borboletas,
Que esvoaçam à minha volta antes de voarem para longe.
Tiras-me o peso do coração.
E da alma.
Atiças-me o fogo que sou eu.
Páras o tempo.
Agora somos nós
E nada mas mesmo nada à nossa volta.
Os sóis brilhantes que são os meus olhos ofuscam tudo o resto.
Menos nós.
No meio do nada.
Somos só nós e o sol ofuscante.
E o júbilo tangível à nossa volta.
Toco-te por fim.
Voo!
E volto à realidade.
O segundo do reencontro durou uma vida.
Vida essa que se comprime nas próximas horas.
Horas nas estrelas!
Com sóis brilhantes por cima de nós
E borboletas esvoaçantes à nossa volta.
Horas que o Tempo teima em transformar em segundos.
Horas que voam e fogem de nós.
Horas que nos aproximam do segundo da despedida.
Muitas vidas se vivem nessas horas:
Vidas de felicidade,
De amor,
De procura de contacto
E de incerteza de desejos e anseios.
Vidas transformadas em horas!
A leveza das nossas almas faz voar os nossos corpos.
O nosso mundo torna-se verde e laranja,
As cores a que as nossas almas brilham juntas.
Tornando-se uma!
Mas por fim chega o maldito segundo.
Angustio-me!
Morro,
Revivo
E volto a morrer.
Num segundo.
Segundo de despedida.
Segundo prolongado ao máximo
Na esperança que o Tempo o páre.
E não o deixe nunca terminar.
Oprime-me!
O saber que o Tempo se ri de nós
E da nossa luta para que o segundo não passe.
Um último toque.
Um último olhar.
Um último sorriso.
Uma última tentativa de mostrar os nossos desejos e anseios.
Passou!
A tua figura a diminuir na distância.
Os sóis deixam de brilhar.
Uma pedra cai no lugar da bomba da vida.
A alma enegrece.
Cada quilómetro percorrido tira a força do sangue que me percorre as veias.
O fogo morre.
Apago-me."
Andreia Cortez
(pelas saudades que tenho tuas... e por como queria desesperadamente prolongar a recordação daquela nossa última noite... Lembras-te de estarmos juntas e felizes no Seven? Lembras-te de como tudo era diferente?! Hoje deu-me uma crise nostálgica... Não sei.. Tenho saudades tuas, precisava de estar horas a falar contigo sobre coisa nenhuma! Daquelas minhas descrições dos meus estados de alma que tu carinhosamente ouvias! Volta para mim... (E aos saltinhos!)
Can't Take My Eyes Off You - Cover dos Muse
As borboletas esvoaçam, na iminência da tua presença.
Cada segundo contado,
Cada minuto transformando-se numa hora,
Cada quilómetro percorrido apertando-me a bomba da vida.
O sangue expelido percorre as minhas veias
Na ânsia de ser aquecido pelo teu calor.
A boca rasga-se num sorriso nervoso.
Sorriso esse que contagia os olhos,
Brilhantes de tal maneira q contêm dois sóis!
Rebrilho!
A distância aproxima-se do nada.
A contagem-decrescente está prestes a chegar ao fim.
As borboletas redobram o seu esvoaçar.
A compressão da bomba da vida mal me permite respirar.
O sangue corre à velocidade da luz.
É nada!
Agora espero.
Exalto-me!
És tu que vens lá.
Com um sorriso no rosto na minha direcção.
Aqueces-me!
Libertas as borboletas,
Que esvoaçam à minha volta antes de voarem para longe.
Tiras-me o peso do coração.
E da alma.
Atiças-me o fogo que sou eu.
Páras o tempo.
Agora somos nós
E nada mas mesmo nada à nossa volta.
Os sóis brilhantes que são os meus olhos ofuscam tudo o resto.
Menos nós.
No meio do nada.
Somos só nós e o sol ofuscante.
E o júbilo tangível à nossa volta.
Toco-te por fim.
Voo!
E volto à realidade.
O segundo do reencontro durou uma vida.
Vida essa que se comprime nas próximas horas.
Horas nas estrelas!
Com sóis brilhantes por cima de nós
E borboletas esvoaçantes à nossa volta.
Horas que o Tempo teima em transformar em segundos.
Horas que voam e fogem de nós.
Horas que nos aproximam do segundo da despedida.
Muitas vidas se vivem nessas horas:
Vidas de felicidade,
De amor,
De procura de contacto
E de incerteza de desejos e anseios.
Vidas transformadas em horas!
A leveza das nossas almas faz voar os nossos corpos.
O nosso mundo torna-se verde e laranja,
As cores a que as nossas almas brilham juntas.
Tornando-se uma!
Mas por fim chega o maldito segundo.
Angustio-me!
Morro,
Revivo
E volto a morrer.
Num segundo.
Segundo de despedida.
Segundo prolongado ao máximo
Na esperança que o Tempo o páre.
E não o deixe nunca terminar.
Oprime-me!
O saber que o Tempo se ri de nós
E da nossa luta para que o segundo não passe.
Um último toque.
Um último olhar.
Um último sorriso.
Uma última tentativa de mostrar os nossos desejos e anseios.
Passou!
A tua figura a diminuir na distância.
Os sóis deixam de brilhar.
Uma pedra cai no lugar da bomba da vida.
A alma enegrece.
Cada quilómetro percorrido tira a força do sangue que me percorre as veias.
O fogo morre.
Apago-me."
Andreia Cortez
(pelas saudades que tenho tuas... e por como queria desesperadamente prolongar a recordação daquela nossa última noite... Lembras-te de estarmos juntas e felizes no Seven? Lembras-te de como tudo era diferente?! Hoje deu-me uma crise nostálgica... Não sei.. Tenho saudades tuas, precisava de estar horas a falar contigo sobre coisa nenhuma! Daquelas minhas descrições dos meus estados de alma que tu carinhosamente ouvias! Volta para mim... (E aos saltinhos!)
Can't Take My Eyes Off You - Cover dos Muse
14/01/09
Frases (Bárias bariadas)
"Deus, o pesadelo dos meus dias. Tive sempre a coragem de o negar, mas nunca a força de o esquecer."
Miguel Torga, ou, para os amigos, Adolfo Correia Rocha (e como custou ontem lembrar-me deste nome!)
Miguel Torga, ou, para os amigos, Adolfo Correia Rocha (e como custou ontem lembrar-me deste nome!)
12/01/09
Nós (e o efeito vidro-espelho)
Sentavas-te na sala.
A moleza com que te aconchegavas no sofá fazia prever que hoje era mais um daqueles dias em que te consideravas cansada. Do trabalho, das tarefas domésticas e até mesmo do cargo genearca que ocupavas.
Ligavas a televisão na ânsia de saber se já tinha começado a tua novela predilecta, mas logo começava o bombardeamento de publicidade, um dos males do século XXI.
Espreitava-te através das janelinhas na porta e sentia vontade de te falar, de resolver de uma vez a discussão que se arrastava há dias. Já não sabia do que havia de me desculpar primeiro, o começo das discussões acabava sempre por ser algo que se esquecia facilmente de tão ilógico que era. No final já discutíamos por outra coisa qualquer, tão ou mais absurda. Cada uma com a sua razão. Cada uma com a sua teima. "Um teimoso não teima sozinho".
Estava tão retirada neste pensamento que quando voltei a mirar a porta já não te conseguia ver. O vidro-espelho, aquele que ocupava as janelinhas da porta, pelo qual te espreitava, desempenhou a sua função e começava então a espelhar-me. "Fotocópia da tua mãe" diziam-me tantas vezes... Erámos de facto iguais. Não só nos traços físicos inegáveis mas também na personalidade. Nas qualidades, nos defeitos. E por isso discutíamos vezes sem conta. Não era fácil para nenhuma de nós ver reflectido no temperamento da outra tudo o que de mau queriamos eliminar de dentro de nós. Claro que há traços que nos distinguem, o difícil era saber qual tinha sido agraciada com os melhores. Estarmos frente-a-frente era como aquele vidro-espelho translúcido, que ora nos mostra reflectidas ora nos deixa ver um bocado além.
Ganho coragem e entro. Ignoras-me como sempre fazes nestes dias azedos. Sento-me e começo a olhar para a televisão. Este era um exercício que fazia muitas vezes. Olhar atentamente para a televisão, como se de facto estivesse a acompanhar o programa, enquanto vou pensando na melhor forma de te abordar. "O que vai ser o jantar?" pergunto tímidamente, achando que foi a melhor das tiradas. "Eu é que sei? Porque não tratas tu disso? Esse vinte e quatro anos só servem para ..." Começo-me a perder no som da discussão. Deixo de te ouvir e entristeço-me no meu silêncio. Raios para os mal-entendidos!! Eu só queria resolver o problema, mas o orgulho fez-me contornar a abordagem, e a minha primeira desencadeou nova discussão. Se ao menos tivesses lido no meu olhar...
Quando recomeço a ouvir-te estavas ainda na descrição de todas as faltas e deformidades do meu carácter. Ou pelo menos das que te lembravas. Mas, com a conhecida dose de mau feitio que me pertence, a tristeza começava a ser transformada em indignação! Não podia ser acusada de tudo aquilo calada! Ía começar a responder-te quando me apercebi do problema da situação: discutíamos por nada em especial e iríamos continuar a discutir até alguêm pôr o orgulho de lado. "Tens razão, mãe. Desculpa. Não penso nas coisas antes de as fazer". Olhas-me com supresa e eu dirijo-me a ti, encaixando-me no teu regaço e cobrindo-te de beijos. Choramos as duas. Um choro silêncioso, reconfortante. "Desculpa-me também, filha." E era com esta frase que, desde que me lembro, acabavam sempre as discussões.
Não sinto que o problema tenha ficado resolvido, não sinto que tenha explicado o que realmente se passa na minha alma. Mas percebo hoje que não era isso que era pretendido. Apesar de sermos ditas iguais, havia uma distância grande entre nós, vivências que não eram partilhadas, experiências de vida diferentes. Eu nunca saberei o que é viver na meninice sem um brinquedo para brincar, ou como é ter uma filha para educar no fim da adolescência. E tu não sabes o que são desilusões de amor, amaste um só homem e casaram, tal e qual "Cinderela dos anos 80". Tu nunca saberás viver a minha adolescência porque não tiveste a tua. Será que isto nos separa? Deixa de facto muita coisa para trás... Coisas que podiamos falar abertamente e não falamos. Coisas que podiamos sentir juntas e não sentimos. Mas deixa-me a certeza de que se fossemos do mesmo ano seríamos as melhores amigas. Assim somos mãe e filha. E não tenho dúvida do que é mais forte.
E com tudo isto, hoje ganhei duas coisas, a descoberta da fórmula secreta de resolver discussões e o direito de fazer o jantar.
Wonderful tonight - Eric Clapton
A moleza com que te aconchegavas no sofá fazia prever que hoje era mais um daqueles dias em que te consideravas cansada. Do trabalho, das tarefas domésticas e até mesmo do cargo genearca que ocupavas.
Ligavas a televisão na ânsia de saber se já tinha começado a tua novela predilecta, mas logo começava o bombardeamento de publicidade, um dos males do século XXI.
Espreitava-te através das janelinhas na porta e sentia vontade de te falar, de resolver de uma vez a discussão que se arrastava há dias. Já não sabia do que havia de me desculpar primeiro, o começo das discussões acabava sempre por ser algo que se esquecia facilmente de tão ilógico que era. No final já discutíamos por outra coisa qualquer, tão ou mais absurda. Cada uma com a sua razão. Cada uma com a sua teima. "Um teimoso não teima sozinho".
Estava tão retirada neste pensamento que quando voltei a mirar a porta já não te conseguia ver. O vidro-espelho, aquele que ocupava as janelinhas da porta, pelo qual te espreitava, desempenhou a sua função e começava então a espelhar-me. "Fotocópia da tua mãe" diziam-me tantas vezes... Erámos de facto iguais. Não só nos traços físicos inegáveis mas também na personalidade. Nas qualidades, nos defeitos. E por isso discutíamos vezes sem conta. Não era fácil para nenhuma de nós ver reflectido no temperamento da outra tudo o que de mau queriamos eliminar de dentro de nós. Claro que há traços que nos distinguem, o difícil era saber qual tinha sido agraciada com os melhores. Estarmos frente-a-frente era como aquele vidro-espelho translúcido, que ora nos mostra reflectidas ora nos deixa ver um bocado além.
Ganho coragem e entro. Ignoras-me como sempre fazes nestes dias azedos. Sento-me e começo a olhar para a televisão. Este era um exercício que fazia muitas vezes. Olhar atentamente para a televisão, como se de facto estivesse a acompanhar o programa, enquanto vou pensando na melhor forma de te abordar. "O que vai ser o jantar?" pergunto tímidamente, achando que foi a melhor das tiradas. "Eu é que sei? Porque não tratas tu disso? Esse vinte e quatro anos só servem para ..." Começo-me a perder no som da discussão. Deixo de te ouvir e entristeço-me no meu silêncio. Raios para os mal-entendidos!! Eu só queria resolver o problema, mas o orgulho fez-me contornar a abordagem, e a minha primeira desencadeou nova discussão. Se ao menos tivesses lido no meu olhar...
Quando recomeço a ouvir-te estavas ainda na descrição de todas as faltas e deformidades do meu carácter. Ou pelo menos das que te lembravas. Mas, com a conhecida dose de mau feitio que me pertence, a tristeza começava a ser transformada em indignação! Não podia ser acusada de tudo aquilo calada! Ía começar a responder-te quando me apercebi do problema da situação: discutíamos por nada em especial e iríamos continuar a discutir até alguêm pôr o orgulho de lado. "Tens razão, mãe. Desculpa. Não penso nas coisas antes de as fazer". Olhas-me com supresa e eu dirijo-me a ti, encaixando-me no teu regaço e cobrindo-te de beijos. Choramos as duas. Um choro silêncioso, reconfortante. "Desculpa-me também, filha." E era com esta frase que, desde que me lembro, acabavam sempre as discussões.
Não sinto que o problema tenha ficado resolvido, não sinto que tenha explicado o que realmente se passa na minha alma. Mas percebo hoje que não era isso que era pretendido. Apesar de sermos ditas iguais, havia uma distância grande entre nós, vivências que não eram partilhadas, experiências de vida diferentes. Eu nunca saberei o que é viver na meninice sem um brinquedo para brincar, ou como é ter uma filha para educar no fim da adolescência. E tu não sabes o que são desilusões de amor, amaste um só homem e casaram, tal e qual "Cinderela dos anos 80". Tu nunca saberás viver a minha adolescência porque não tiveste a tua. Será que isto nos separa? Deixa de facto muita coisa para trás... Coisas que podiamos falar abertamente e não falamos. Coisas que podiamos sentir juntas e não sentimos. Mas deixa-me a certeza de que se fossemos do mesmo ano seríamos as melhores amigas. Assim somos mãe e filha. E não tenho dúvida do que é mais forte.
E com tudo isto, hoje ganhei duas coisas, a descoberta da fórmula secreta de resolver discussões e o direito de fazer o jantar.
Wonderful tonight - Eric Clapton
11/01/09
O Prazer da Monogamia
Senti-o respirar e acordei.
Não estava habituada a ter alguém a dormir comigo, incomodava-me ter de partilhar o espaço de uma cama de solteira, não gostava das lutas pelos cobertores, entrava em pânico com o acordar a dois e especialmente com aquelas palavras lamechas, ditas no meio de um pequeno-almoço que dava certamente para alimentar um família, pela abundância e variedade de comida. Talvez fosse por isso que eu não gostasse de dormir acompanhada. Gostava de pequenos-almoços simples, café e torradas, e o dia corria-me muito melhor.
Tentei não me mexer com medo de o acordar. Não saberia o que dizer. A nossa relação de poucas semanas não me havia preparado para esta primeira e repentina dormida juntos. Era sempre assim, tudo muito precipitado. Não conseguia contar as relações que tinha tido nesse último ano e os meus amigos já se riam quando eu dizia que estava mesmo apaixonada e que desta é que era. Apesar de tudo, eu acreditava no que dizia, mas logo se revelavam os primeiros defeitos, brotavam as primeiras discussões ao mesmo compasso que aparecia um novo alguém na minha vida, ainda envolto na cortina do mistério, com o charme natural do desconhecido. Era então um novo começar numa relação que eu achava que ía ser a "tal" e o fim de outra que eu tinha apelidado outrora do mesmo modo. E eu acreditava mesmo no que dizia. (Mas sentia?)
Não me sentia culpada pela velocidade avassaladora a que consumia os sentimentos. Os meus e os dos outros. "Que culpa tenho eu se deixo de gostar? Nunca enganei ninguém" mentia para mim própria. A traição era um pecado que me podiam apontar. Por vezes a celeridade da nova paixão não dava tempo de findar a anterior e envolvia-me em jogos sujos de engano e de mentira. "Era apenas mau timing" sorria irónicamente. Abstraí-me nestes pensamentos até que adormeci no leito da minha própria ilusão.
Voltei a acordar com o mexer do seu corpo. O dia já ameaçava nascer e conseguia então observar-lo. O tronco nu, os seus braços fortes, a pele morena. Fixo-me no seu rosto. Está sereno, dorme profundamente e consigo adivinhar pelo suave sorriso que esboça que viajava num sonho bom. Nunca lhe tinha topado esta expressão. A vivacidade que emana, os risos sonoros, a gesticulação exacerbada, toda essa extroversão escondiam esta calma que também é sua. Graciosidade e beleza tomavam conta de mim. Sinto-me então bem ao seu lado, como nunca me sentira com ninguém. Seria por me entregar constantemente à loucura da luxúria sem tirar partido de momentos como estes?
Mexo-me calmamente, com medo de o acordar e interromper o único momento que valera a pena na noite. Aconchego-me no seu peito, e beijo o seu rosto. Agarra-me a mão. "Bolas! Estragaste tudo!" pensei. Nesse segundo rodou o seu corpo para mim e olhou-me nos olhos. Sorriu do mesmo modo que sorria no sono, enquanto encostou os lábios ao meu ouvido e me murmurou versos de Neruda. Ri alto. Um riso feliz, desconcertante. Fixou-me novamente e perdemo-nos os dois numa viagem de sentidos. A minha pele queimava em contacto com a sua. Olhava-o extasiada enquanto me tocava com exagerada calma "Quero muito mais do que me estás a dar. Quero que a tua alma seja minha" Tantas vezes já tinha ouvido palavras como estas, mas nesse dia fizeram, pela primeira vez, sentido. Queria que esse corpo que me queimava acordasse ao meu lado todos os dias. Queria que esse sorriso que me enlouquecia me acordasse todas as manhãs. Rolámos para o chão, e amámo-nos ao som do amanhecer de um novo dia....
O dia em que descobri o prazer da monogamia.
Interpol - No I In Threesome
Não estava habituada a ter alguém a dormir comigo, incomodava-me ter de partilhar o espaço de uma cama de solteira, não gostava das lutas pelos cobertores, entrava em pânico com o acordar a dois e especialmente com aquelas palavras lamechas, ditas no meio de um pequeno-almoço que dava certamente para alimentar um família, pela abundância e variedade de comida. Talvez fosse por isso que eu não gostasse de dormir acompanhada. Gostava de pequenos-almoços simples, café e torradas, e o dia corria-me muito melhor.
Tentei não me mexer com medo de o acordar. Não saberia o que dizer. A nossa relação de poucas semanas não me havia preparado para esta primeira e repentina dormida juntos. Era sempre assim, tudo muito precipitado. Não conseguia contar as relações que tinha tido nesse último ano e os meus amigos já se riam quando eu dizia que estava mesmo apaixonada e que desta é que era. Apesar de tudo, eu acreditava no que dizia, mas logo se revelavam os primeiros defeitos, brotavam as primeiras discussões ao mesmo compasso que aparecia um novo alguém na minha vida, ainda envolto na cortina do mistério, com o charme natural do desconhecido. Era então um novo começar numa relação que eu achava que ía ser a "tal" e o fim de outra que eu tinha apelidado outrora do mesmo modo. E eu acreditava mesmo no que dizia. (Mas sentia?)
Não me sentia culpada pela velocidade avassaladora a que consumia os sentimentos. Os meus e os dos outros. "Que culpa tenho eu se deixo de gostar? Nunca enganei ninguém" mentia para mim própria. A traição era um pecado que me podiam apontar. Por vezes a celeridade da nova paixão não dava tempo de findar a anterior e envolvia-me em jogos sujos de engano e de mentira. "Era apenas mau timing" sorria irónicamente. Abstraí-me nestes pensamentos até que adormeci no leito da minha própria ilusão.
Voltei a acordar com o mexer do seu corpo. O dia já ameaçava nascer e conseguia então observar-lo. O tronco nu, os seus braços fortes, a pele morena. Fixo-me no seu rosto. Está sereno, dorme profundamente e consigo adivinhar pelo suave sorriso que esboça que viajava num sonho bom. Nunca lhe tinha topado esta expressão. A vivacidade que emana, os risos sonoros, a gesticulação exacerbada, toda essa extroversão escondiam esta calma que também é sua. Graciosidade e beleza tomavam conta de mim. Sinto-me então bem ao seu lado, como nunca me sentira com ninguém. Seria por me entregar constantemente à loucura da luxúria sem tirar partido de momentos como estes?
Mexo-me calmamente, com medo de o acordar e interromper o único momento que valera a pena na noite. Aconchego-me no seu peito, e beijo o seu rosto. Agarra-me a mão. "Bolas! Estragaste tudo!" pensei. Nesse segundo rodou o seu corpo para mim e olhou-me nos olhos. Sorriu do mesmo modo que sorria no sono, enquanto encostou os lábios ao meu ouvido e me murmurou versos de Neruda. Ri alto. Um riso feliz, desconcertante. Fixou-me novamente e perdemo-nos os dois numa viagem de sentidos. A minha pele queimava em contacto com a sua. Olhava-o extasiada enquanto me tocava com exagerada calma "Quero muito mais do que me estás a dar. Quero que a tua alma seja minha" Tantas vezes já tinha ouvido palavras como estas, mas nesse dia fizeram, pela primeira vez, sentido. Queria que esse corpo que me queimava acordasse ao meu lado todos os dias. Queria que esse sorriso que me enlouquecia me acordasse todas as manhãs. Rolámos para o chão, e amámo-nos ao som do amanhecer de um novo dia....
O dia em que descobri o prazer da monogamia.
Interpol - No I In Threesome
I chose not to choose life, I chose something else
Recuso-me.
Recuso-me a escolher a vida convencional. Recuso a vida do nascer, aprender a gatinhar, dar os primeiros passinhos (enquanto fazemos as delícias dos nossos pais).
Recuso-me a brincar, ir à escola, namorar, entrar na faculdade, ter a primeira desilusão de amor e ultrapassar o primeiro grande problema.
Recuso-me até a conhecer o homem da minha vida, acabar o curso, casar, comprar uma casa, um carro, ter o primeiro filho, fazer uma belíssima viagem até um destino exótico no estrangeiro (e quem sabe a única),ter o segundo filho, começar a ter problemas conjugais (mas mantendo aquele casamento porque socialmente parece bem e não me sentirei capaz de viver sozinha), ver os filhos irem para a escola, casarem, até que nasce o primeiro neto, no dia em que surge a primeira ruga e os cabelos brancos.
Se esse dia chegasse recusar-me-ia a viver o resto da minha vida vivendo a vida dos outros, quem sabe até com alzheimer sem me puder sequer lembrar dos poucos e raros momentos de felicidade que tive.
Lou Reed - Perfect Day
(para quem tem saudades de quando o NL fechava às sete)
Recuso-me a escolher a vida convencional. Recuso a vida do nascer, aprender a gatinhar, dar os primeiros passinhos (enquanto fazemos as delícias dos nossos pais).
Recuso-me a brincar, ir à escola, namorar, entrar na faculdade, ter a primeira desilusão de amor e ultrapassar o primeiro grande problema.
Recuso-me até a conhecer o homem da minha vida, acabar o curso, casar, comprar uma casa, um carro, ter o primeiro filho, fazer uma belíssima viagem até um destino exótico no estrangeiro (e quem sabe a única),ter o segundo filho, começar a ter problemas conjugais (mas mantendo aquele casamento porque socialmente parece bem e não me sentirei capaz de viver sozinha), ver os filhos irem para a escola, casarem, até que nasce o primeiro neto, no dia em que surge a primeira ruga e os cabelos brancos.
Se esse dia chegasse recusar-me-ia a viver o resto da minha vida vivendo a vida dos outros, quem sabe até com alzheimer sem me puder sequer lembrar dos poucos e raros momentos de felicidade que tive.
Lou Reed - Perfect Day
(para quem tem saudades de quando o NL fechava às sete)
09/01/09
Quem não passou pelo embaraço do sorriso que diz tudo, mas que, no final das contas, não queria dizer nada? Poderia fazer uma enorme dissertação sobre o tema, poderia contar-vos das inúmeras vezes em que fui forçada a fazê-lo e das outras tantas em que mo fizeram, mas limito-me a sorrir, deixando assim perceber que o tempo que dispensaram a ler este texto, foi claramente em vão... Ou não! Por vezes esse sorriso traz mais coisas escondidas que o mero abafar dum silêncio inevitável. Pelo menos assim hoje mo disseram.
E tu? Já sorriste hoje?
E tu? Já sorriste hoje?
08/01/09
Habla con ella
Abriu a porta de casa, num estado de alcoolémia silencioso. Em bicos dos pés dirigiu-se até ao quarto, calcorreando todo o corredor em passos de ballet. Despiu-se aos apalpões, sem acender a luz, num gesto mecanizado e decorado na altura em que o pequeno almoço se tomava rigorosamente às 16h00. Ao deitar-se inclina o corpo num reflexo rápido de abraço. Não o sente. Apesar de estranhar, não faz questão de o procurar.
Abriu a porta de casa, num impulso de coragem. A garrafa de whisky barato a rasar o fundo atestava o estado de nervos em que se encontrava. Bate o portão antes de se dirigir para o carro. A perspectiva de a encarar supera todas as forças dum discurso imploratório ensaiado para cima de dez vezes naquela última hora. Acelera em direcção a nada, chorando compulsivamente.
Caetano Veloso - Cucurrucucu Paloma in 'Habla con ella' Pedro Almodóvar
Abriu a porta de casa, num impulso de coragem. A garrafa de whisky barato a rasar o fundo atestava o estado de nervos em que se encontrava. Bate o portão antes de se dirigir para o carro. A perspectiva de a encarar supera todas as forças dum discurso imploratório ensaiado para cima de dez vezes naquela última hora. Acelera em direcção a nada, chorando compulsivamente.
Caetano Veloso - Cucurrucucu Paloma in 'Habla con ella' Pedro Almodóvar
Poemas avulso - "Às vezes em sonho triste"
"Às vezes, em sonho triste
Nos meus desejos existe
Longinquamente um país
Onde ser feliz consiste
Apenas em ser feliz.
Vive-se como se nasce
Sem o querer nem saber.
Nessa ilusão de viver
O tempo morre e renasce
Sem que o sintamos correr.
O sentir e o desejar
São banidos dessa terra.
O amor não é amor
Nesse país por onde erra
Meu longínquo divagar.
Nem se sonha nem se vive:
É uma infância sem fim.
Parece que se revive
Tão suave é viver assim
Nesse impossível jardim."
Fernando Pessoa
Jorge Palma - Terra dos Sonhos
Nos meus desejos existe
Longinquamente um país
Onde ser feliz consiste
Apenas em ser feliz.
Vive-se como se nasce
Sem o querer nem saber.
Nessa ilusão de viver
O tempo morre e renasce
Sem que o sintamos correr.
O sentir e o desejar
São banidos dessa terra.
O amor não é amor
Nesse país por onde erra
Meu longínquo divagar.
Nem se sonha nem se vive:
É uma infância sem fim.
Parece que se revive
Tão suave é viver assim
Nesse impossível jardim."
Fernando Pessoa
Jorge Palma - Terra dos Sonhos
As mais belas frases de amor
As mais belas frases de amor:
"O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)."
Milan Kundera, 'A insustentável leveza do ser'
Chico Buarque - João e Maria
"O amor não se manifesta pelo desejo de fazer amor (esse desejo se aplica a uma série inumerável de mulheres), mas pelo desejo do sono compartilhado (este desejo diz respeito a uma só mulher)."
Milan Kundera, 'A insustentável leveza do ser'
Chico Buarque - João e Maria
04/01/09
As mais belas frases de amor
As mais belas frases de amor:
"A vida tinha-se encarregado de lhes ensinar que a felicidade do amor não se fez para adormecer nela, mas sim para se foderem juntos."
Gabriel Garcia Marquez, 'Notícia de um sequestro'
Dead Combo - Lusitânia Playboys
"A vida tinha-se encarregado de lhes ensinar que a felicidade do amor não se fez para adormecer nela, mas sim para se foderem juntos."
Gabriel Garcia Marquez, 'Notícia de um sequestro'
Dead Combo - Lusitânia Playboys
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