24/10/08

Enforca Cães

A estrada.
Sinuosa, estreita e sufocante.
E é pelo mar que ali estou.
Enquanto percorro os zigzags e tento dominar as tuas manhas, o medo toma-me, o meu estomago aperta-se, contrai-se de angústia. Talvez me engane por mero capricho, talvez goste apenas de sentir a adrenalina, de sofrer um bocadinho sem razão (poderei eu ser mimada a tal ponto?). O que é certo é que já por aqui passei outras vezes, senti o medo, a angústia, a certeza que não ía aguentar dar nem mais um passo. E quando finalmente vislumbro a cidade que começa a acordar e olho para trás e vejo que 'já passou' penso que 'não foi assim tão difícil' e que da próxima vez não hesitarei!
Hoje do topo da montanha volto a olhar o mar e choro. Sinto saudades do gosto salgado, do frio na pele, do arrepio que provocavas ao primeiro toque. Choro o último abraço que ficou lá no fim do Verão.
A estrada fita-me com raiva à espera que eu decida, ouço os gritos desconcertantes do mar mas não percebo o que ele diz.
Talvez me diga que tenho que passar por ali e que vai estar lá, do meu lado a guiar-me, pelos dias felizes que passamos na praia.
Ou então já me esqueceu, talvez já não se lembre das gargalhadas felizes, dos beijos salgados e dos corpos enrolados numa onda e me chame com o seu grito fingido de dor para que eu passe a estrada, e sem dar conta ele me engula triunfante enquanto espera sorrateiro um outro amor. (és tu mar?)
Ou talvez simplesmente me diga que aquele não é o caminho, que apesar de já ter chegado ali que tenho de voltar para trás, que se dou um passo as terras que partimos anteriormente se movem e me engolem para sempre.
Há realmente outro caminho.
No meio da floresta, onde não se ouve nem se sente a brisa do mar passa uma estrada. Estrada plana, de betão duro e frio, sem percalços, sem agitações. É o caminho mais sensato, o que oferece menos perigos, o que acarreta menos riscos. Mas também aquel que mais me afasta de ti.
Porque me mandas ir por lá mar? Terei mesmo que ir sozinha por caminho tão longo como este? Terei mesmo de voltar atrás e reconstruir todo um caminho já percorrido? Mandas-me fazê-lo porque? E se eu me perco mar? Se nunca mais te encontro?
E se tu, velho esquecido que és, quando eu chegar ... já não te lembrares quem sou?

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